Abuso Sexual Infantil e Traços de Psicopatia*



Segundo a Associação Americana de Psicologia (APA), abuso sexual é a atividade sexual não desejada, onde o agressor usa a força, faz ameaças ou exclui vantagens da vítima que se torna incapaz de negar consentimento. Muitas vezes o agressor conhece a vítima e vice-versa.
Nas últimas décadas cresceu o número de estudos que visam correlacionar a agressão sexual, o desenvolvimento de instrumentos para a avaliação do risco de reincidência e a eficácia dos tratamentos oferecidos a essa população. (SETO e colaboradores, 2016). Esses estudos mostraram o quanto é importante a avaliação do nível de psicopatia, e o motivo maior é que, segundo o Violence Risk Appraisal Guide, pessoas psicopatas têm maiores chances de voltar a cometer crimes, podendo até escalonar e passar a cometer crimes ainda mais graves (Harris, Rice, Quinsey & Cormier, 2015; Quinsey, Harris, Rice & Cormier, 2006). A psicopatia também possui relação com outros fatores de risco, como atitudes e crenças que favorecem atos violentos, dificuldades de autocontrole, tanto de forma generalizada quanto sexual, e não-adequação a tratamentos ou supervisão (HANSON et al, 2007).


A psicopatia, que é medida através do PCL-R, é a manifestação mais extrema e de maior persistência de tendências antissociais. Agressores sexuais costumam possuir um histórico de comportamentos antissociais, crimes não relacionados a sexo e delinquência juvenil (e.g. BARD et al., 1987; WEINROTT & SAYLOR, 1991). Histórico criminal, o diagnóstico de Transtorno de Personalidade Antissocial e a Psicopatia são frequentemente associados à reincidência tanto em crimes sexuais quanto não-sexuais entre a população em questão (HANSON & BUSSIÈRE, 1998; HANSON & MORTON-BOURGON, 2005). Segundo Rice et. Al (1990), o teste PCL-R conseguiu predizer a reincidência em 54 homens agressores sexuais que foram estudados.
Também há estudos que indicam a relação entre tendências antissociais e agressões sexuais. Pesquisas mostram que universitários que adotam atitudes e crenças antissociais têm mais chances de se envolverem em coerções sexuais e não-sexuais (MALAMUTH et al., 1995).
Mesmo com esses dados, há evidências de que a pontuação entre agressores sexuais de adultos é maior do que a pontuação de agressores sexuais infantis (QUINSEY et al, 1995; RICE & HARRIS, 1997, SERIN et al, 1994).
É de extrema importância a análise das tendências antissociais em agressores sexuais, pois psicopatas têm muito mais chances de reincidência, incluindo crimes sexuais (RICE & HARRIS LANG, 2013). Ainda há poucos estudos sobre a eficácia do tratamento em psicopatas, mas dois deles sugerem que os psicopatas respondem mais negativamente ao tratamento do que os não-psicopatas (RICE, HARRIS & CORMIER, 1992; SETO & BARBAREE, 1999). Dois outros estudos, porém, sugerem que psicopatas podem responder positivamente ao tratamento (OLVER & WONG, 2013; SKEEM, MONAHAN & MULVEY, 2002). Para Polaschek (2014) esse pode ser um dado otimista, porém mais estudos são necessários.

*Este texto faz parte do artigo científico Abusadores Sexuais Infantis: Perfilamento Criminal e Análise de Traços de Psicopatia, de Katarine Canabarro, Ariadne Costa e Tânia Miele.

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